Análise e problematização da área atual:
- A CONFIGURAÇÃO DA CIDADE
Blumenau iniciou sua colonização em 1850, e se expandiu tentacularmente muito rápido, infiltrandro-se por vales e superando a densa mata, a topografia complexa e os cursos d'água: o Ribeirão Garcia; e o Ribeirão da Velha. O parcelamento do solo era feito de modo que os lotes chegassem com seus fundos no limite natural mais próximo: um curso d'água ou um pé de um morro. Ao longo dos tempos os lotes passaram por sucessivos processos de herança, que provocaram dezenas de desmembramentos que, por sua vez, recortaram com formas irracionais os nossos quarteirões. Formando, assim, quadras por vezes com um perímetro exagerado, outras vezes exageradamente lineares, outras, ainda, com tipologias de lotes que criam espaços inutilizáveis.
- O SISTEMA VIÁRIO
A falta de planejamento pós-colonização leva o sistema de circulação da cidade, tanto para o carro quanto para o pedestre, à ruína. Produz espaços públicos lineares nada interessantes para a sociabilidade, e cria não-espaços socialmente injusto para o pedestre, que sucumbe perante o uso massificado do carro, feito a calhar para cobrir grandes distâncias em uma cidade que não circula ortogonalmente, ou em forma de rede.
Ainda dentro da temática viária, é destaque o fato da Rua Martin Luther, que forma binário com a Rua São Paulo, não conseguir se comportar como uma rua, e sim como mero corredor de circulação de automóveis. Talvez isso seja o reflexo de raízes históricas que remetem a criação da rua, visto que no início ela era uma ferrovia com estações de parada muito distantes entre si para exercerem influência de ocupação nas margens dos trilhos.
Outro fator relevante é a impossibilidade da Rua Martin Luther em ser ocupada em ambos os lados ao longo de todo seu trajeto. Isso ocorre em virtude da chegada junto à rua da cadeia de morros do Bairro Boa Vista, formando verdadeiros paredões, que só em certos trechos se abrem para o uso, através de bolsões de ocupação não íngremes. Ainda outro fator deve ser compreendido para saber o porquê da Rua Martin Luther se comportar apenas como corredor de circulação: ela atua influentemente, apenas em um sentido e uma direção. Ou seja, ela funciona apenas do centro da cidade para os bairros como: Fortaleza, Itoupava Seca, etc. E não em outra direção nem em outro sentido, como a Rua São Paulo que é ligada e ancorada fortemente com a Rua 7 de Setembro através de três vias: Rua Parayba, Rua Heinrich Hosang e Av. Antônio da Veiga, enquanto a Rua Martin Luther, até mesmo em suas ligações com a Rua São Paulo, é tímida e pouco influenciada, ficando esquecida, apenas para servir como fundos das edificações que se abrem à Rua São Paulo. Além do que, em outra margem encontra-se a cadeira de morros, também não é para lá que poderia dissipar ou absorver influências.
- A OCUPAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A análise baseou-se onde há predominância absoluta de um tipo de uso só. Os institucionais se localizam espalhadamente, com destaque para a FURB e para o SENAI. A FURB está implantada no ponto de ligação da Rua Antônio da Veiga com a Rua São Paulo, que recebe influência direta da Rua 7 de Setembro. Esta localização em que a FURB se apresenta é um grande gerador de influências, orientando os usos ao seu redor para o comércio e a prestação de serviços. Outro ponto importante ancorado na Rua 7 de Setembro é o de ligação das Ruas Parayba e São Paulo. Nas áreas às margens desse nó se encontram uma igreja e um bar/lanchonete, provando a capacidade de encontro, observação e socialização que possui esse ponto. A influência do centro da cidade em conjunto com a deste ponto nodal nortearam o uso comercial e de serviços a caminhar ao longo da Rua São Paulo, buscando cada vez mais espaços em direção à FURB. Portanto a busca de espaços comerciais e de serviços partiu do centro da cidade em direção à FURB pela Rua São Paulo. E com a instalação da universidade foi criada uma nova centralidade geradora de influência, que direcionou os usos a irem a partir da FURB para a Rua Antônio da Veiga e para o centro de Blumenau pela Rua São Paulo. Porém os raios de uso dissipados por esses pontos não chegam a se tocar, cada um vindo de seu lado do mapa, em um ponto central. A Rua São Paulo se tornou um eixo totalmente comercial e de prestação de serviços justamente por este fator. Devido à, ainda, falta de tempo, um quarteirão está sem possuir qualquer tipo de uso predominante. É a interface dos usos provenientes do Centro e da FURB.
- CONDICIONANTES, DEFICIÊNCIAS E POTENCIALIDADES
Os aspectos naturais condicionaram a ocupação e o traçado de todo o binário da Rua São Paulo e Martin Luther. É interessante serem notados os contrapontos das ocupações nas cotas extremas: como acontece com o Museu da Água, localizado no alto do Morro Boa Vista e as edificações lindeiras ao Ribeirão da Velha, localizadas em cotas muito baixas, de vale. Apesar da pequena distância horizontal entre esses pontos, a distância vertical é imensa, gerando contrapontos absurdos em altura, mas que podem ser usados como potencialidades através do diálogo dos pólos. Para isso acontecer o meio urbano deve esquecer seu narcisismo, e fazer uso de um altruísmo ainda latente, voltando-se ao que, querendo ou não, lhe é inerente: a natureza com suas condicionantes e potencialidades. Rios e morros são tratados como seccionadores da malha urbana, nunca como interligadores, aos quais a cidade prefere dar às costas a dar as mãos. O binário também funciona com contrapontos de altura, pois a Rua Martin Luther se localiza em média 6 metros acima da Rua São Paulo. Porém, essa diferença de altura não é notada facilmente, pois não é possível visualizar a Rua São Paulo a partir da Martin Luther.
Foto Aérea Parcial de Blumenau. Fonte: acervo PMB
INTEGRAÇÃO ESPACIAL HUMANA:
A presente proposta tem a intenção de tornar mais humano o espaço que interliga muitos bairros ao Centro da cidade de Blumenau, através do binário formado pela Rua São Paulo (sentido bairros-centro) e a Avenida Martin Luther (sentido centro-bairros). Além de fazer em uma visão secundária, mas não menos importante, a ligação entre os vários pontos focados no esporte, lazer e cultura dispersos pela cidade.
Projeto Geral
A partir do levantamento apresentado anteriormente, temos a área de estudo deste projeto como sendo as quadras entre o binário formado pela Rua São Paulo e Avenida Martin Luther, uma área sem identidade usual e até degradada pelo desuso e pela conformação do seu espaço, assim como seus arredores.
A proposta é fazer interessante o uso deste espaço público que hoje se encontra sem identidade e em desuso, fortalecendo o crescimento da área em questão, por incentivar a apropriação do espaço pela população, tendo em três pontos chaves a diversidade de usos que traz as pessoas dos mais diversos interesses a buscar a utilização dos mesmos para saciar suas necessidades, sejam elas culturais, de lazer, ou mesmo comerciais e burocráticas.
Esses pontos estão estrategicamente localizados de modo a aproveitar os espaços de maior necessidade de intervenção, por terem alto potencial de aproveitamento, uma localização estratégica ou uma possibilidade de uso mais adequado que o atual. Sem levar em consideração a seqüência como grau de importância, temos citados os três pontos como sendo, a ligação entre a Rua São Paulo e a Avenida Antônio da Veiga, a ligação da Rua São Paulo e Avenida Martin Luther com a Rua Carlos Rischbieter (acesso ao Bairro Boa Vista) e ligação entre a Rua São Paulo e Rua Parayba.
IMPLANTAÇÃO
Foto Aérea Parcial de Blumenau. Fonte: acervo PMB
PRAÇA DE LAZER E CONVENIÊNCIA
O primeiro ponto de intervenção, o ponto de ligação entre a Rua São Paulo e a Avenida Antônio da Veiga, que por estar muito próximo a FURB tem grande potencial de aproveitamento como área de lazer e conveniência, será contemplado com uma praça em três níveis, onde além de espaços de convivência, será possível aproveitar o espaço para a prática esportiva e contará também com comércios e prestadores de serviços que trazem conveniências à população, que não precisará se deslocar até o centro da cidade para resolver pequenos problemas do cotidiano. Para tanto a praça conta com um estacionamento que traz também conforto e comodidade ao público que utilizar desse espaço.
Além de todos os atrativos já citados a praça conta com um prédio que emoldura a paisagem para quem vem da Rua Antônio da Veiga que terá uma vista do Morro do Bairro Boa Vista, e terá em seu dois primeiros pavimentos escritórios e nos demais apartamentos para estudantes ou quem mais interessar.
PRAÇA DE CULTURA E ENTRETENIMENTO
O segundo ponto de intervenção, a ligação da Rua São Paulo e Avenida Martin Luther com a Rua Carlos Rischbieter (acesso ao Bairro Boa Vista), como uma área desprovida de influências tanto do centro da cidade quanto da universidade, trata-se de um área degradada, com um grande potencial de aproveitamento no sentido do lazer e cultura, uma vez que dá acesso a um ponto turístico de um visual belíssimo e muito pouco explorado nesse sentido o museu da água, situado no alto do morro da boa vista voltado ao centro da cidade, que tem seu acesso pela rua Carlos rischbieter. Esse ponto será contemplado com três intervenções que se interligam tanto em uso quando como espaço. O primeiro espaço será dedicado a cultura e lazer voltado ao mundo literário e multimídia, com uma praça em dois níveis, que terá em seu primeiro nível um espaço para feiras de livros, e outros eventos ligados a cultura, seja ela literária ou de qualquer outro intiuto, no nível acima um espaço de contemplação e ócio, e acima dela como uma edificação propriamente dita, ligada a praça através de rampa teremos uma biblioteca pública, que também terá disponível todos os tipos de mídia, podendo gerar uma integração entre todas as faixas etárias e sociais. Ligado a este espaço mas do outro lado da rua será implantado um anfiteatro que transpõem os níveis do terreno através de uma arquibancada em forma de ferradura que possibilita ter camarins e banheiros para utilizações em grandes apresentações públicas em seu primeiro nível, onde também existe um grande espaço voltado ao ócio criativo, poderá receber exposições abertas, terá em seu segundo nível um café e no terceiro nível um espaço de contemplação. Esse último espaço se liga através de uma passarela que atravessa a Rua São Paulo, com uma edificação hoje sem uso, que tem em seu pátio um estacionamento para ônibus coletivos, que terá um novo uso, sendo cedida para a fundação de uma cooperativa de artistas que utilizarão esse espaço como atelier e também como escola de artes para todos os interessados. A cooperativa ligada diretamente ao anfiteatro poderá utilizá-lo para exposições e mostras e terá responsabilidade pelo cuidado e zelo do espaço.
PRAÇA CÍVICA
Chegamos então ao terceiro ponto, que por sua proximidade com o centro da cidade tem a responsabilidade ãde se tornar extenso do mesmo, fazendo com que as pessoas venham se apoderando do espaço e percebendo a importância e magnitude dessa área de importância vital, ao qual a própria cidade dá as costas por não entender como espaço e sim como corredor de passagem em ambos os sentidos. Para chegar a tal objetivo, nada mais interessante que fazer dele a própria extensão do uso público da cidade. Como a prefeitura tem se tornado pequena para atender as necessidades de espaço físico do setor público, já tem se buscado soluções de implantação para o legislativo municipal em outras áreas da cidade. Propomos então que unindo a necessidade de espaço com a necessidade de percepção da área em questão, que ele receba o novo prédio para abrigar o legislativo municipal, assim como para o antedimento de todo tipo de entidades governamentais ou não governamentais mas sem fins lucrativos, para que se tenha mais de um uso tornando o espaço mais dinâmico, atrativo e democrático possível.
PARQUE NATURAL E DIRETRIZ URBANA
Paralelo às propostas de intervenção pontuais, existem duas propostas diferenciadas, umas delas diz respeito a interligar o espaço estudado e projetado aos outros espaços de cultura e lazer da cidade, a outra como diretriz urbana para as próximas edificações a serem construídas no miolo do binário.
Aproveitando os aspectos naturais que se revelam na área de estudo, buscou-se fazer um ligação íntima das pessoas com o Ribeirão da Velha, que tem sua mata ciliar preservada em grande parte e utilizando da área não edificável de forma a interligar todos os espaços criados a outros espaços de lazer e cultura da cidade, amarrando-os assim com a cidade com um todo, com um percurso de caminhadas e ciclismo, pois através dele, chegamos facilmente ao parque Ramiro Ruediger, e com ele desembocando no Rio Itajaí-Açú ligamos também à prainha e a Avenida Duque de Caxias, mais conhecida como Rua das Palmeiras, o centro histórico da cidade.
Outra questão a ser enfocada como uma diretriz urbana, é a proposta de atualizar a legislação fazendo com que as próximas edificações do miolo de quadra do binário entre a Rua São Paulo e Avenida Martin Luther não podssam cortar a circulação linearmente e que devem ser implantados criando praças de convivência e espaços de contemplação compartilhados com outros edifícios, que podem ter suas recepções voltadas para esses espaços de miolo de lotes, separando-as do fluxo de carros e valorizando assim, o pedestre.
Parque Ramiro Ruediger. Fonte: acervo Roger Vieira
Restaurante Novo Moinho do Vale. Fonte: acervo Roger Vieira
Cervejaria Expresso (antigo Biergarten). Fonte: acervo Roger Vieira
Al. Duque de Caxias (Rua das Palmeiras). Fonte: acervo Roger Vieira
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